Yehudá Leib HaLevi Ashlag
(Baal HaSulam)/ Cartas
Carta nº 25
Londres, 1926.
Para um amigo do coração e nosso professor *** que sua vela brilhe para sempre
... O que escreveste, que não compreendes as inovações na Torá que te escrevi, na verdade deveriam ter sido claras para ti. Quando tu endireitares a maneira como trabalhas, irás entendê-las [com certeza]. É por isso que eu as escrevi para ti
Tu explicaste a respeito e o que você interpretou, em “os pecados se tornarem como méritos para ele”, que, quando alguém se arrepende diante do Criador, ele evidentemente vê que o Criador o forçou a cometer suas iniquidades, e ainda assim ele, voluntariamente, dá sua alma para corrigi-los como se fossem suas próprias iniquidades. Com isso, os pecados tornam-se como méritos. Mas isso ainda não atinge o alvo, pois, no final, é como se as coerções se transformassem em méritos, mas não em pecados.
E mais ainda te desviaste do caminho ao interpretar o pecado de Adam HaRishon, condenando sua alma ao exílio forçado e tornando a coerção um erro. E o que explicaste, que não faz diferença se o bebê se suja, ou é feito pelos atos de seu pai, pois, no final, ele está sujo e deve se lavar, eu me pergunto, como a sujeira saiu da pureza?
As tuas últimas palavras são sinceras, porque entraste em um lugar que não é teu, e pelo teu hábito de cobrir-te com roupas que não são tuas, e por isso, não entendeste as minhas palavras, que são direcionadas precisamente e somente para ti. Assim seja que estas palavras fossem suficientes, para que tu parares de vaguear, pastar por vinhas que não são tuas, como está escrito em O Zohar: "É proibido ao homem olhar para onde não precisa”.
Em relação ao que escreveste – que parece que escondo o sentido de meus dizeres entre as linhas etc. falo em enigmas – está escrito: “As necessidades do Teu povo, Israel, são muitas etc…”. Não há tempo igual ao outro, muito menos aquele que vai de porta em porta, para lá e para cá, mas as portas não se abrem. Não há um fim para as mudanças em teus estados. Enquanto escrevo palavras da Torá, ou verbalmente, eu as digo para que seja fornecido o sustento por, pelo menos, alguns meses, para que sejam compreendidas nos bons tempos, ao longo do tempo. Mas o que posso fazer se os bons momentos são poucos, ou se o quebrado for mais do que o corrigido e as minhas palavras forem esquecidas?
É claro que a mente intelectual humana não examinará minhas palavras, pois elas são ditas e construídas a partir das letras do coração.
E quanto à vossa imaginação que entraram e não souberam sair porque vos cansastes de examinar o assunto, digo-vos que, em geral, quem se arrepende do amor é recompensado com completa Dvekut [adesão], ou seja, o mais alto grau, é aquele que está pronto para os pecados está no submundo. Estes são os dois pontos mais distantes em toda essa realidade.
Parece que devemos ser meticulosos com a palavra “arrependimento”, que deveria ter sido chamada de “plenitude”, exceto para mostrar que tudo está preordenado, e cada alma já está estabelecida em toda a sua luz, bondade e eternidade. Mas, para o pão da vergonha, a alma saiu em restrições até se vestir no corpo turvo, e, só através dele, volta à sua raiz antes do Tzimtzum (restrição), com a sua recompensa na mão por todo o terrível movimento que tinha feito. A recompensa geral é a verdadeira Dvekut, o que significa que ela [a alma] se livrou do pão da vergonha porque seu vaso de recepção tornou-se um vaso de doação e sua forma é igual à do seu Criador, e, muitas vezes, já vos falei sobre este assunto.
Com isto, verás que se a descida for para ascender, é considerada como uma subida e não como uma descida. Na verdade, a descida em si é a subida, uma vez que as letras de oração, em si, estão cheias de abundância, e com uma breve oração, a abundância é pequena por falta de letras. Os nossos sábios disseram: "Se Israel não tivesse pecado, só lhes teriam sido dados os Cinco Livros de Moisés e o livro de Josué".
Como é isto? É como um homem rico que tem um filho único jovem. Um dia, o homem rico teve que viajar para muito longe por muitos anos. O homem rico temia que o seu filho desperdiçasse a sua riqueza por maus julgamentos, por isso trocou as suas propriedades por pedras preciosas, joias e ouro, e construiu um porão no fundo do solo, onde escondeu todo o ouro, pedras preciosas e joias. Mas também colocou seu filho lá.
Ele convocou seus servos leais e ordenou-lhes que impedissem seu filho de sair do porão até seu vigésimo aniversário. Todos os dias, eles deveriam trazer para ele toda comida e bebida, mas absolutamente nenhum fogo ou velas. Eles também deveriam verificar as paredes e selar todas as fendas para que a luz do sol não penetrasse. Para sua saúde, eles deveriam tirá-lo do porão todos os dias por uma hora e levá-lo a pé pela cidade, mas cuidando para que ele não fugisse. Em seu vigésimo aniversário, eles deveriam dar-lhe velas, abrir uma janela para ele e deixá-lo sair.
Naturalmente, a aflição do filho era intolerável, especialmente quando ele saía e via todos os rapazes comendo e bebendo alegremente na rua, sem guardas ou limites de tempo, enquanto ele estava preso com poucos momentos de luz. E se tentasse fugir, seria espancado sem piedade.
Mas ele ficou muito perturbado quando soube que seu próprio pai lhe havia causado essa aflição, porque eram criados do seu pai e faziam as ordens do pai. Naturalmente, ele considerava o seu pai o mais cruel de todos os cruéis que já viveram, pois quem já ouviu falar de tal coisa?
No seu vigésimo aniversário, os criados baixaram-lhe uma vela, como o pai tinha pedido. O rapaz pegou na vela e começou a olhar ao redor. E eis o que viu? Sacos cheios de ouro e todas as delícias reais.
Só então, ele compreendeu que o seu pai é verdadeiramente misericordioso, e que todos os seus problemas eram apenas para o seu próprio bem. Ele, imediatamente, entendeu que os criados certamente o deixariam sair do porão, e ele o fez. Saiu do porão e não havia guardas nem criados cruéis. Em vez disso, ele é um homem nobre, mais rico que as pessoas mais ricas do país.
Mas, na verdade, não há nada de novo aqui, pois é revelado que ele era muito rico para começar, mas, em sua percepção, ele era pobre e destituído, oprimido no poço todos os seus dias. Agora, em um único momento, ele ganhou tremendas riquezas e subiu do poço profundo ao topo do telhado.
Quem pode entender esta alegoria? Alguém que entende que os "pecados" são o porão profundo, com vigilância cuidadosa, para não deixar escapar um. Pergunto-me se vós entendeis.
Isto é simples: o porão e a vigilância cuidadosa são todos "privilégios" e a misericórdia do pai sobre o filho. Sem ela, teria sido impossível para ele ser tão rico como o seu pai. Mas "pecados" são pecados reais e não erros. Não há coerção de cima. Em vez disso, antes que ele recuperasse sua riqueza, esse sentimento dominava no sentido pleno da palavra. Mas uma vez que ele recuperou sua riqueza, ele viu que tudo isso eram misericórdias de um pai e nada de crueldade [Deus me livre].
Devemos entender que toda a conexão de amor entre o pai e seu filho único depende do reconhecimento da compaixão do pai pelo filho em relação ao porão e à escuridão e a vigilância cuidadosa, porque o filho vê nessas misericórdias do pai um grande esforço e profunda sabedoria.
O Santo Zohar também falou sobre isso, dizendo que aquele que é recompensado com arrependimento, a Shechiná [Divindade], aparece para ele como uma mãe de coração bondoso que não vê seu filho há muitos dias, e eles fizeram grandes esforços e experimentaram privações para se verem um ao outro, por isso ambos estavam em grande perigo. Mas, no final, eles alcançaram a tão almejada liberdade e foram recompensados por se verem. Então a mãe caiu sobre ele, beijou-o, consolou-o e falou baixinho com ele o dia todo e a noite toda. Ela lhe contou do anseio e dos perigos nos caminhos que viveu até hoje, como sempre esteve com ele, e que a Shechiná nunca se moveu, mas sofreu com ele em todos os lugares, porém ele não conseguia ver.
Estas são as palavras. E esta é a língua de O Zohar: “Ela diz a ele: 'Aqui dormimos; aqui fomos atacados por bandidos e fomos salvos deles; aqui nos escondemos em uma cova profunda', e assim por diante. Que tolo não entenderia o grande amor, prazer e deleite que brotam dessas histórias reconfortantes?”
Na verdade, antes que eles se encontrem cara a cara, sentem que o sofrimento é mais difícil que a morte. Mas como a palavra Nega [aflição] é porque o Ayin [a letra] vem no final da palavra, mas durante a narração de histórias de conforto, a letra [Ayin] está no início da palavra, tornando-a Oneg [deleite/prazer]. No entanto, são dois pontos que iluminam apenas quando estão no mesmo mundo. Agora imagine um pai e um filho que esperam ansiosamente um pelo outro há dias e anos. Quando eles finalmente se veem, o filho é surdo e mudo, e eles não podem desfrutar um do outro. Segue-se que a essência do amor está nas delícias reais.
יהודה ליב
Yehuda Lev Ashlag.
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